Em meio a tanta chatice – e festivais de dança, daquilo, daquilo outro que beiram, sei lá, as festas infantis cansadas e repetitivas... Mossoró apresentou, nos últimos dias, um espetáculo de encher os olhos.
E o tal coração – de muitos já desiludido com uma cena cultural que, ao que parece, só fervia mesmo à época de Gustavo Rosado, à frente da cultura da cidade que, hoje, capenga... resolveu, sempre esperançoso coração, bater novamente.
Conta a lenda que após povoarem a Terra Mãe, os apaixonados, Coaraci e Yací (o sol e a lua) rumaram ao infinito, e cada qual em seu lugar.
De longe se observavam sem poderem se tocar.
Mas no girar deste Toré (mundo), milhares de anos terrestres avançam, e minguante de saudades, Yací desobedece Tupã e desce rumo ao nascer do sol. Mas algo inesperado acontece. Ao desobedecê-lo Yací se transforma em uma criança miúda. Branquinha feito a lua. Um pontinho de luz num lugar chamado: Amazônia.
Inspirado na lenda tupi-guarani do Sol e da Lua, Abá Yací, é um conto de resistência. Um sopro de esperança que vem para colorir um mundo já tão cansado de cinzas.
DEUSES
Com direção geral de Natália Negreiros, uma menina que peguei no colo e que dança desde o ventre, Abá Yacy emocionou geral. Linda, apaixonante que sempre foi, o espetáculo foi um deslumbre.
Sua mãe, a irretocável arquiteta Lavínia Negreiros, assinou os cenários: belos; a talentosa Joriana Pontes a direção teatral.
Com ideia original de outro deus, Ângelo Gurgel, o menino que cresceu entre reis e gatos na Avenida Rio Branco e transformou-se, mais tarde, na mais perfeita das Madonnas para, em seguida, resguardar-se num universo particular de tranqüilidade e mansidões assinou, ao lado de Romero Oliveira, a dramaturgia.
Tudo muito lindo, tocante.
Um espetáculo inteiramente autoral, que levou a todos uma linda, verdadeira, e importante mensagem de consciência e respeito com um lugar que é nosso, mas é o nosso lar, a Amazônia.
Foram 57 artistas, entre bailarinos e atores, trazendo música, teatro, circo, e claro, dança para o Abá Yacy.
Tudo muito lindo, sem afetação.
Juntos levaram ao público uma super produção de plasticidade e efeitos visuais, sem deixar para traz a grande mensagem que carrega: respeito, amor, luz.